segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Sombra



Como todos os livros não-acadêmicos que leio, estou lendo a conta-gotas "A Doença como Caminho". Dei início ontem ao capítulo 3, "A Sombra". Confesso que estou amedrontada. Adoro esses livros que parecem falar de coisas que já sabemos, só precisávamos de um empurrãozinho para nos lembrarmos. Tipo a Clarisse Lispector. Amo.


No referido capítulo (que ainda não terminei de ler, como eu disse, leio a conta-gotas) encontramos uma descrição sobre o que seria a nossa Sombra. Ela é a parte de nós que negamos a todo momento, e que acreditamos estar do lado de fora, e não dentro. Ou seja, quando eu digo "sou uma pessoa que ama a vida", estou automaticamente dizendo que eu "não sou uma pessoa que odeia a vida". Contudo, este tipo de comportamento deixa de lado a idéia da existência da polaridade, onde um pólo não sobrevive sem o outro. Se, no meu consciente, eu "amo a vida", na minha sombra reside exatamente o contrário. O importante é estar atento que ambos lados da moeda residem dentro de nós mesmos, e não do lado de fora. Quando negamos e sentimos repulsa pela violência, estamos considerando que ela se encontra fora de nós, é obra dos outros. Desconsideramos que ela existe dentro de nós mesmos, ainda que escondida.


Isso leva a outra consideração importante, da qual o fofo do Stephen Hawking é "partidário" (no seu best-seller "O Universo numa Casca de Noz"): a idéia da relação microcosmos-macrocosmos. Ou seja, tudo aquilo que existe no cosmos, que o faz pulsar, que o movimenta, existe dentro de nós mesmos. Existe dentro de cada formiguinha, de cada casca de noz, de cada átomo. Um é o reflexo do outro e vice-versa. Reclamamos tanto (eu, inclusive, sou super reclamona) de como o mundo está poluído, violento, caótico etc, etc, mas não queremos perceber que a mudança reside dentro de nós mesmos. Não queremos, claro, porque reclamar é fácil, o difícil é agir em prol da mudança. Ainda mais quando a mudança é em nós mesmos. Aí ferrou.


Esta discussão me lembra daquela célebre frase de Mahatma Gandhi: "seja a mudança que você quer ver no mundo". Em tempo: sexta passada foi dia de São Jorge. Até quando vamos ficar fugindo dos nossos dragões internos? Por que queremos, sem chance, persegui-los e matá-los? Particularmente, eu acho o dragão de São Jorge simpático. Ele mora na Lua, um dos maiores símbolos da obscuridade. E um dos mais belos também.

4 comentários:

  1. Amei este post! Tb acho fundamental admitirmos e trabalharmos com a nossa "sombra"/dragões :)

    beijocas
    Patita

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  2. Obrigada Patita! Seja sempre bem-vinda por aqui!
    Bjocas!

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  3. Ai...acho que finalmente eu comecei a fazer análises com o meu dragão. Ano passado marcamos o "macabro" encontro e decidimos nos entender.
    Até que hoje em dia acho ele bem simpático...kkkk e nos amamos intensamente.

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  4. Que lindo, amiga! Espero conseguir me entender tb com meu dragão/sombra um dia... tudo o que disse serve a mim mesma: até quando vou continuar perseguindo o dragão sem tentar compreendê-lo e conhecê-lo? Bjocass

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